Por Camilo Aggio*: Não, vacinas não provocam aborto. Também não provocam autismo, não trazem chips embutidos em sua composição, não foram criadas por Bill Gates e não são vendidas pela indústria farmacêutica a governos no lugar de fármacos mais baratos e potentes. Vacinas são, tão e somente, o meio mais eficiente e econômico para salvar vidas. Esse é o consenso da comunidade científica, graças a experimentos laboratoriais rigorosos e acúmulo extraordinário de evidências científicas.
As vacinas, no entanto, têm se tornado um tema cada vez mais saliente no contraste entre o consenso científico e a opinião pública. Em face de uma pandemia e a volta de doenças antes erradicadas em muitos países, a hesitação vacinal tem ganhado um grande amparo na circulação de desinformação científica na internet.
Embora o Brasil tenha avançado exemplarmente na cobertura vacinal contra a Covid-19 e, dessa forma, apresentado um horizonte promissor de superação da pandemia, talvez sejamos um experiência bastante singular no movimento de combate às vacinas. Isso porque não faltam influenciadores, políticos e articulistas, médicos e, vejam, um presidente investindo parte significativa de seu tempo e capital social para levantar suspeitas sobre as vacinas, principalmente online.
Medir os efeitos dos discursos antivacina não é tarefa simples, mas a literatura especializada vem coletando e registrando evidências de grande correlação entre a crença em teorias conspiratórias e a hesitação vacinal, por exemplo. A desinformação ou as chamadas fake news não parecem exercer um efeito forte, direto e inconsciente sobre as pessoas, mas tão somente se ajustar aos sistemas de crença e valores dos indivíduos. Ou seja, os crentes do antivacinismo não seriam exatamente manipulados, e sim abraçam informações objetivamente incorretas que reforçam suas predisposições. Nada diferente do que acontece em relação à política e ao voto.
Se em matéria de política e eleição, a desinformação pode estimular a passividade política e a abstenção eleitoral, no que diz respeito às vacinas, pode provocar doenças, hospitalizações e mortes. Em um contexto pandêmico, o fenômeno ganha contornos cruéis de tragicidade.
Ilustro com um exemplo anedótico. Uma ex-colega de faculdade contou-me recentemente que deixou de tomar, há alguns anos, a terceira dose da vacina contra o HPV – vírus que provoca câncer no colo do útero que ceifa a vida de cerca de 8.079 mulheres por ano no Brasil. A razão não foi exatamente anticientífica, muito menos fruto de ignorância motivada, mas de confusão e receio.
Prestes a receber a terceira dose da vacina, uma amiga lhe enviou uma vídeo de um médico apontando efeitos colaterais severos do imunizante que poderiam levar a óbito. Ela, então, recuou. Ainda não havia bolsonarismo, mas, em junho deste ano, ela descobriu que aquele médico que a fez recusar a terceira dose é o médico preso no Egito por assédio verbal a uma vendedora. Como ele, há algumas tantas dezenas de médicos e outros profissionais de saúde disseminando, há muito tempo, conteúdos conteúdos desinformativos em plataformas online que podem provocar doenças e mortes.
Eu comecei o texto falando de vacina e aborto. Mas não era para tratar das teorias conspiratórias que relacionam vacinas ao risco de mulheres abortarem. Estava pensando Janaína Paschoal, deputa estadual de São Paulo, ferrenha militante contra os direitos reprodutivos da mulher. A deputada bolsonarista publicou a seguinte mensagem em sua conta no Twitter no final da manhã de ontem: “Todo meu apoio à decisão do Ministro Queiroga. Vamos resistir ao lobby e discutir com profundidade a vacinação de nossas crianças. Autorizar não significa obrigar”.
Todo meu apoio à decisão do Ministro Queiroga. Vamos resistir ao lobby e discutir com profundidade a vacinação de nossas crianças. Autorizar não significa obrigar!
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) December 18, 2021

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