Por Denise Assis*, para o Jornalistas pela Democracia: Não há surpresa nos números favoráveis a Bolsonaro. Ele está no poder. Ele é foco na mídia diariamente. Quadros do campo progressistas não são chamados à cena, a não ser em portais alternativos, para falar à própria bolha.
E o que Bolsonaro tem a dizer para a população? Nada. A não ser o que sempre disse para os que o elegeram, a despeito de suas sandices. Como observou o sociólogo e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), João Dulci, sua pauta macro segue coerente: alinhamento total com os EUA, liberdade de ação para a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, atuar no varejo com ações moralistas e de costumes. No mais, o avanço da montagem de um aparato de informações, que coloque para dentro do governo os seus, os que “funcionam” ao seu estilo, e seguir com a promessa de uma política de segurança com base em liberação de armas, e ignorar as queimadas na Amazônia.
A pandemia, com as mais de 106 mil mortes, impacta, mas não pesa na sua conta. A fatura ficou regionalizada, para os que deram a cara a tapa. A saber: governadores e prefeitos. Em países que a levaram a sério, os governos chamaram a si a responsabilidade de organizar o lockdow, a saída dele e suas consequências. Aqui, tudo o que Bolsonaro fez foi “provar” que a Covid-19 não o atinge. Nem física, tampouco politicamente. E azar de quem não tomou a cloroquina.
Suas práticas de baixo clero, de surrupiar salário de funcionários contratados em seu gabinete, estratégia repassada aos filhos, não surtem efeito sobre um país que há quase cinco anos – no auge do lavajatismo foi bombardeado por um noticiário que acusava A e B de roubar e desviar cifras astronômicas. Tamanho ataque e o desfile de tais cifras levou a que a população não esteja nem aí para o filho do presidente que pagou em dinheiro vivo um apartamento de R$ 630 mil, e mantinha um funcionário manuseando R$ 7,2 milhões. Para usar uma expressão em voga, o povo deve estar se perguntando: “e daí?”
O ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, acena com obras, para ativar postos de trabalho. (Sabe-se lá de onde virão as verbas). Enquanto isto, cai na conta de 62 milhões de brasileiros carentes, a quantia de R$ 600 do auxílio emergencial – que aos olhos de quem recebia menos de R$ 200, do Bolsa Família, faz fartura e motiva apoio a um governo que não pensou esta política e regateou o valor do que seria dado, mas fatura o resultado como seu. Afinal, é ele quem libera a verba depositada nas contas lá na ponta. Carimba o dinheiro.
Por mais que a oposição esperneie e fale da má vontade de Bolsonaro com o auxílio, dizendo que ele queria o valor de R$ 200, e só chegou aos cabalísticos R$ 600,00 com a grita no Congresso, certo é que o repasse agora o alavanca em território nunca antes navegado, tem a mídia, tem um exército (de robos ou não), manejando com maestria as redes sociais. Enquanto isto, os do campo progressista estão confinados em casa, seguindo as orientações sanitárias, esperando a pandemia passar. (Não é um julgamento).
Há uma reação No Judiciário, com votações mais coerentes, mais afinadas com os parâmetros constitucionais e isto ajuda. Há a proximidade das eleições municipais, uma oportunidade de se falar aos eleitores, quem sabe reconquistá-los?… E há a economia, que embora retorne a alguma atividade, reabre com a insistência nos números dramáticos do desemprego e regras selvagens na relação entre patrões e empregados. Os direitos trabalhistas, pulverizados sob Michel, (o golpista), com regras agora sacramentadas na carteira verde e amarela, podem causar alguma reação na classe trabalhadora, totalmente fora da cena, desde que perdeu a voz e o imposto sindical.
Mas há também o esfarelamento de uma equipe econômica. Paulo Guedes, embora se mantenha no comando, exibe para o respeitável público as entranhas de uma briga que pode não cair bem para o mercado financeiro, atento aos movimentos do que se passa no Planalto. E, por fim, não se pode perder de vista duas coisas. Uma: Bolsonaro sempre pode surpreender. E para menos. Além disso, há 2021 no meio de 2022. É um caminho a percorrer. E sempre dá para recuperar a narrativa perdida.
Basta fazer politica.
*Denise Assis, é jornalista com passagem por principais veículos, tais como: O Globo, Jornal do Brasil, Veja, Isto é o Dia. É autora de “Propaganda e cinema a serviço do golpe – 1962/1964” e “Imaculada”. E Membro do Jornalistas pela Democracia
Via: 247
Imagem: reprodução/Foto: Carolina Antunes – PR

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