Governo: Herança pesada e herança bendita

Um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, publicado nos jornais O Globo e Estadão, parece ter determinado o fim da relação diplomática mantida entre   Dilma Rousseff e o ex-presidente. Dilma não gostou nada do teor do artigo onde FHC diz que a presidente recebeu de Lula, uma herança pesada como chumbo. Aliás, o mesmo mote usado nos discursos de Lula contra o Governo do PSDB, quando das campanhas da sua reeleição.

Em seu artigo, Fernando Henrique frisou a crise moral em relação à queda de oito ministros do Governo, sete por corrupção. Mas, em todos os casos, Dilma brandiu a vassourinha e e teve a atitude correta expurgando dos ministérios os parceiros denunciados. Referiu-se ao mensalão, um outra dor de cabeça, ao qual a presidente passou longe. Concluindo que desviar dinheiro é crime, tanto para caixa 2 como para comprar apoio político no Congresso Nacional. Convenhamos, FHC usou dessa artimanha de comprar apoio político para alterar a Constituição brasileira, e criar o mandato presidencial de 8 anos. No caso, o seu próprio. E nem houve CPI por causa disso. O ex-presidente admite, mas nem lembra quais parlamentares foram comprados (veja comentário de Bob Fernandes abaixo).
  

Por outro lado, sabe-se que o mesmo esquema de administração financeira foi utilizado no mensalão tucano, que a mídia chama de mensalão mineiro, quando da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB). O processo está no Supremo Tribunal Federal (STF), esquecido. O mesmo valerioduto de agora, comandado pelo empresário Marcos Valério, réu do mensalão do PT, junto com os petistas denunciados, irrigou também a campanha do ex-presidente Fernando Henrique, em Minas. O que foi confirmado pelo próprio Azeredo, ex-governador do Estado, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, naquela ocasião. 

O ex-presidente segue comentando uma série de medidas que Lula deveria ter tomado e não o fez. Como a política energética, o atraso das obras do PAC, e a reforma da Previdência, tentada também durante seu último mandato. Não mencionou a reforma tributária e a reforma política, que os dois ex-presidentes não conseguiram fazer.

Dias atrás, Dilma Rousseff elogiou o ex-presidente por ter livrado o país da hiperinflação com a implantação do Plano Real, na verdade lançado no Governo Itamar, pelos ministros Ricúpero (aquele que dissera em uma entrevista que “o que é bom a gente mostra o que é ruim a gente esconde”) e Ciro Gomes. (Veja vídeo nesta matéria).

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Bons ou ruins, ambos os governos tiveram seus pontos negativos e pontos positivos. Não se pode lançar ao fogo da destruição, a figura popular e representativa construída por cada um dos ex-presidentes, sumariamente.  Os dois governaram entre acertos e erros pessoais, por pura ideologia política. Lula será penalizado politicamente pelo julgamento do mensalão em curso no STF. Que certamente condenará seus parceiros de Governo pelo envolvimento no escândalo. Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente muito mimado pela mídia compadresca, apesar de nunca ter sido questionado deve explicações à sociedade sobre casos que não foram devidamente esclarecidos. Como por exemplo, a Privataria ocorrida em seu governo, objeto do livro do repórter Amaury Jr. (A Privataria Tucana), um dos mais vendidos no Brasil, porém estranhamente ignorado pelos grandes canais de informação (Ricúpero tinha razão).    

Doravante, fica prejudicado o relacionamento amistoso mantido entre Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso, nas questões políticas e governamentais. Tão somente porque o ex-presidente não consegue superar o ressentimento político, e a intolerância que cultiva desde que Lula assumiu a presidência da República. Ele, e todos os partidos de oposição. Não que Lula seja um santo. Ninguém é santo em política. Mas, FHC neste artigo, estrapolou. E teve suas bravatas rebatidas com equilíbrio.      

Veja a íntegra da Nota publicada no Blog do Planalto.

Citada de modo incorreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado neste domingo, nos jornais O Globo e Estado de S. Paulo, creio ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares.
Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão. 
Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes. 
Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes.
Recebi um Brasil mais respeitado lá fora graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional. Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista. 
Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento. Aprendi como os erros e , principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olho no futuro. 


Dilma Rousseff
Presidente da República Federativa do Brasil

Imagem: reprodução/diariodocentrodomundo