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Por Alexandre Putti* – Algumas expressões ditas até hoje surgiram durante o período da escravidão e trazem um significado carregado de racismo. No Brasil, o 20 de novembro marca o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, um dos maiores líderes negros do Brasil que lutou pela libertação do povo contra o sistema escravista.
A data é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e sobre o racismo que essa população enfrenta. E não é só nos dados oficiais que o racismo fica exemplificado. Ao longo da história, algumas expressões e palavras foram criadas em cima de situações vividas por negros, principalmente na época escravocrata, e que são utilizadas até hoje.
Para pensarmos em uma sociedade mais igualitária, sem racismo e preconceito, precisamos urgentemente desconstruir esse discurso e parar de utilizar expressões que aparentemente não parecem ofensivas, mas são. E muito.
Dez palavras e expressões que precisamos para de falar AGORA:
Mulata
A palavra se refere à mula, um animal originado do cruzamento de burro com égua. Na época da escravidão, muitas escravas eram abusadas pelos patrões e acabavam engravidando. Os filhos eram chamados de mulatos por serem o resultado do cruzamento de um homem branco com uma mulher negra. Hoje, as pessoas utilizam esse termo para se referir às pessoas pardas, mas a palavra deve ser imediatamente retirada do vocabulário.
Denegrir
Sempre que alguém utiliza essa palavra é para dizer que está sendo difamado ou injustiçado por outra pessoa. Mas segundo o dicionário Aurélio, a definição de “denegrir” é “tornar negro”, escurecer”. Então, utilizar a palavra denegrir de forma pejorativa é extremamente racista.
Lista negra
Essa expressão é sempre utilizada de forma negativa. Uma pessoa estar em uma “lista negra” significa que ela está sendo perseguida ou que não poderá mais adentrar em certos ambientes. A palavra negra é colocada nessa afirmação de uma forma pejorativa e, mais uma vez, racista.
Mercado negro
Mercado negro segue a mesma ideia da lista negra. A palavra “negro” é utilizada de forma pejorativa para se referir a algo proibido, ilegal, perigos e ruim.
‘Não sou tuas negas’
Essa é uma expressão extremamente racista. Isso porque quando se tratava do comportamento para com as mulheres negras escravizadas, assédios e estupros eram recorrentes. A frase deixa explícita que com as negras pode tudo e com as demais não se pode fazer o mesmo, e nesse “tudo” está incluso estuprar, assediar, maltratar, etc.
Da cor do pecado
Essa expressão geralmente é utilizada como forma de elogio. Existe até música sobre a história de amor com um homem da cor do pecado. Mas essa expressão está longe de ser elogio. Antigamente, ser negro era considerado pecado. Os poderosos da época junto com integrantes da Igreja Católica justificavam a escravidão como um castigo divino. Então, dizer que alguém é “da cor do pecado” é associado a algo negativo.
Criado-mudo
O nome do móvel que geralmente é colocado na cabeceira da cama vem de um dos papéis desempenhados pela criadagem dentro de uma casa: o de segurar as coisas para seus senhores. Como o empregado não poderia fazer barulho para atrapalhar os moradores, ele era considerado mudo.
Doméstica
Domésticas eram as mulheres que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como animais e por isso precisavam ser domesticados através da tortura.
Inveja branca
Na contramão de todas as expressões e palavras anteriores, “inveja branca” significa uma inveja que não faz mal, que é do bem. Ou seja, associando à cor branca a coisa é boa, legal e não machuca.
Amanhã é dia de branco
E para encerrar, essa expressão que é a mais esdrúxula de todas. Dia de branco é utilizado para se referir a dia de trabalho, responsabilidade e compromissos. Como se só gente branca trabalhasse duro. Isso porque antigamente o trabalho dos escravos não era considerado trabalho e essa ideia perpetua até hoje.
Imagem: reprodução
[Essas e muitas outras expressões discriminatórias, que denotam racismo, “é o indício do quanto a opressão e o preconceito estão incorporados à visão de mundo das pessoas”, constam também de um estudo feito pelo professor de biologia Luiz Henrique Rosa, que resultou no projeto denominado “Qual é a graça” e contabilizou 360 termos de cunho racista. A matéria sobre o assunto foi publicada por Chrystal Méndez, no site Curta Mais, e replicada no
portal Geledés-Instituto da Mulher Negra]
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Sobre o Fundador
Guaraci Primo é o criador e editor do Blog Seu Guara, fundado em 2008. Natural do Paraná, é bacharel em Administração e ex-servidor da Previdência Social e do Banco do Brasil.
Apaixonado por futebol e atento às transformações políticas e sociais do país, criou o blog como um espaço para unir informação, opinião e reflexão, sempre com responsabilidade e respeito ao leitor. Ao longo dos anos, consolidou um projeto reconhecido pela credibilidade, pelo equilíbrio editorial e pela valorização do pensamento crítico.
Guaraci acredita na comunicação como um instrumento democrático e busca oferecer um ambiente livre, acessível e plural, onde todos possam se expressar de forma civilizada e respeitosa,
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