O covarde apresenta a conversa mole ao colega Frank King (John Goodman está sensacional). King comprava, escondido, roteiros de James Dalton Trumbo, que não poderia — como subversivo — assinar mais nada no cinema. King responde que seu negócio é fazer filmes e ganhar dinheiro, e não caçar comunistas. E passa a desferir golpes de beisebol no ar e nas paredes para afugentar o idiota do escritório.

Dalton Trumbo (Bryan Cranston, da série Breaking Bad) é o roteirista perseguido. Faz parte de um grupo de 10 nomes do cinema que entram na tal lista negra do Congresso (acredite, do Congresso) como comunistas. É o macartismo, que assombrou política americana nos anos 40 e 50, por conta da perseguição do senador republicado Joseph McCarthy e seus asseclas aos que seriam uma ameaça à democracia.
O macartismo teve o apoio de artistas, liderados por John Wayne (esculachado pelo filme), e de boa parte da imprensa. Os alvos eram de todas as áreas, mas muito mais do cinema (Charlie Chaplin, Orson Welles, Robert Taylor, Humprey Bogard, Arthur Miller). Até Bertolt Brecht e Einstein foram perseguidos pelos defensores da família e dos bons costumes.
Os menos famosos perdiam o emprego. Calculam que Hollywood se livrou, em nome da caçada moralista, de mais de 300 roteiristas, atores, diretores e músicos durante uma década — muitos sem qualquer militância política.
Mas Joseph McCarthy, o medíocre que tenta assustar um país (como alguns fazem hoje no Brasil e outros, como Trump, continuam a fazer nos Estados Unidos), quase nem aparece no filme. Os que aparecem mesmo são os que resistem, principalmente Kirk Douglas (pai de Michael Douglas), homenageado de forma comovente pelo filme.
Kirk e o diretor Otto Preminger desafiam os caçadores de comunistas e avisam: os roteiros de Trumbo deveriam, sim, ter a sua assinatura. E desmoralizam, pela arte, os cupinchas de McCarthy.
Trumbo é um filme sobre o direito de pensar e de defender ideias e sobre os sentimentos que isso aciona em meio a covardias e deduragens. Um dos covardes é Louis B. Mayer, o poderoso fundador da Metro-Goldwyn-Mayer, marionete anticomunista, mostrado no filme como um frouxo.
Mas o maior deles, o mais completo, a mais asquerosa figura de dedo-duro foi John Wayne. O caubói da direita, que mandava cuspir na cara de pretensos comunistas, tem seguidores no Brasil. As atitudes de alguns representantes do nosso ultrareacionarismo muito se assemelham ao que ele pregava.
Trumbo não mostra o jornalista Ed Murrow, da CBS, que enfrentou a farsa macartista na TV e já mereceu um grande filme — Boa Noite, Boa Sorte, em que é interpretado por George Clooney. Ed foi o contraponto do jornalismo ao colunismo da alcagueta Hedda Hopper (a inglesa Helen Mirren).
Duas frases de Dalton Trumbo servem para qualquer coisa na vida. A primeira é esta, ao dizer por que resistia:
— A coragem é contagiosa.
E esta é a outra, quando um amigo informa que alguns conhecidos estão dedurando colegas:
— Eles estão vendendo suas almas… quando conseguem encontrá-las.
Trumbo é História. Sua lição singela continua valendo, nesses tempos de macartismo explícito ou na moita. Antes de vender sua alma, procure saber se não é possível salvá-la.”
(*) Moisés Mendes, é editor especial e colunista de Zero Hora. Escreve sobre política, economia, cidades, costumes, sabiás e tudo o que render uma crônica.
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