“Só não vamos fazer pacto com o diabo”, afirmou Bolsonaro em julho, enquanto costurava uma aliança com o clã dos Barbalho no Pará. O candidato do PSL tentou se coligar com diversos partidos de direita, mas não teve sucesso. Apesar de vender a imagem de que não formou uma coalizão ampla por ser alérgico a conchavos, Bolsonaro não está isolado porque quer, mas por incapacidade política. Mesmo estando muito bem colocado nas pesquisas, não teve habilidade para formar uma base de apoio fora do seu clubinho reacionário.
Em um contexto de demonização da política, em que lamentavelmente as alianças políticas são confundidas com práticas criminosas, o isolamento de Bolsonaro vira virtude aos olhos dos eleitores mais incautos.
Onyx Lorenzoni (DEM-RS) – apesar do seu partido apoiar Alckimin, é um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro. Sempre com discurso moralizador, o gaúcho foi o relator das “10 medidas contra a corrupção” e se tornou um aliado de Deltan Dallagnol – um dos autores da proposta feita pelo Ministério Público. Logo após a revelação do áudio que registrou a famosa conversa entre Temer e Joesley, Onyx bradou contra a elite política do país, dizendo que ela “apodreceu, perdeu credibilidade, perdeu o respeito do eleitor, da eleitora, do cidadão, do trabalhador”. Um dia após essa declaração moralizadora, Onyx apareceu como recebedor de caixa 2 nos documentos apresentados pela JBS em sua delação. Depois que rodou bonito, o deputado se viu obrigado a admitir o crime. Continua usando, porém, o figurino de paladino da moral e dos bons costumes. Em junho deste ano, porém, o STF arquivou o inquérito que investigava o crime do qual Onyx é réu confesso.
Major Olimpo (PSL-SP) – é um ex-policial militar que gosta de resolver as coisa no grito e, apesar de recentemente ter se consolidado como um quadro de direita ideológico, já foi do PDT e se filiou ao PMB, o Partido da Mulher Brasileira, mas ficou pouquíssimo tempo e pulou para o Solidariedade. Com a candidatura de Bolsonaro na praça, foi para o PSL e imediatamente virou presidente do partido e São Paulo. Quando Joice Hasselmann “atravessou o samba” e se lançou candidata ao governo do estado, Major não resolveu a questão internamente. Preferiu publicar um vídeo repudiando a colega de partido, com tom agressivo, afirmando que o PSL “não é casa da mãe Joana”.
Delegado Éder Mauro (PSL-PA) – o deputado federal mais votado pelo Pará na última eleição, que teve a Odebrecht como maior doadora de campanha, o delegado Éder Mauro vem fazendo campanha para Bolsonaro desde o ano passado, quando gastou R$ 14 mil para espalhar 400 outdoors por Belém em sua homenagem. Mauro já foi alvo de um inquérito no STF (arquivado por Gilmar Mendes) por prática de tortura e é investigado por outros crimes, como extorsão e ameça. Integrante da bancada da bala, ele também defende abertamente um golpe militar no país. Éder Mauro já se envolveu em confusões na Câmara e, por muito pouco, não trocou socos com o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) durante uma audiência na Câmara no ano passado.
Delegado Waldir (PSL-GO) – foi deputado federa mais votado da história de Goiás. Eleiro pelo PSDB, seu número de campanha era 4500 e o slogan era “45 é o calibre e 00 é da algema”. O delegado pulou para o PR e, logo em seguida, foi para o PSL para ficar pertinho de Bolsonaro. “Tivemos uma presidente terrorista. Um presidente sociólogo, que defende a liberação da maconha. Agora, chega! Tá na hora de mudar e colocar um presidente disciplinador e que entenda de hierarquia. E é o Bolsonaro”.
Capitão Augusto (PR-SP) – é aquele deputado federal conhecido por desfilar com a farda militar pela Câmara. O policial tentou fundar o Partido Militar Brasileiro, mas não conseguiu o número de assinaturas necessárias. Seu desejo era que o número da nova legenda fosse 38, “por causa do famoso três oitão, revólver mais usado pelas corporações militares”, ou 64, “em homenagem a nossa revolução democrática”. Com atuação parlamentar irrelevante, o capitão apresentou neste ano um inacreditável projeto de lei que obriga árbitros de futebol e seus auxiliares a declararem por escrito o time que torce. Dessa fora, eles seriam impedidos de apitar os jogos dos times do coração.
Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) – descendente de Dom Pedro, o príncipe do Brasil saiu do Novo e se filiou ao PSL para poder apoiar Bolsonaro. Para ele, o verdadeiro golpe militar no Brasil se deu com a proclamação da República, e não em 1964. O príncipe sempre foi muito amigo do MBL e é autor do livro cujo título é involuntariamente irônico: “Por que o Brasil é um país atrasado?”.
A turma do Bolsonaro não é apenas conservadora e reacionária. São extremistas amalucados movidos por fanatismo religioso, boatos de WhatsApp ou qualquer coisa que lhes dê na telha. Assim com Jair Bolsonaro, são saudosos do regime militar, mas jamais prestaram nenhum serviço relevante ao país em sues mandatos concedidos democraticamente pelo povo. Entre pastores, delegados, majores, capitães e um príncipe, todos ali têm um quê de Cabo Daciolo. Como disse Ciro Gomes em um dos debates, “a democracia é uma delícia, uma beleza, mas tem certos custos”.
Por João Filho
No Intercept Brasil
Imagem: reprodução

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