Por Flávio Oliveira Ribeiro, no GGN: Sempre que um filme tentou modelar o comportamento das pessoas, aconteceu exatamente o oposto. Este é um fato histórico desde que Hollywood tentou aconselhar os norte-americanos desempregados a não pegar carona nos trens durante a grande depressão do início do século XX.
Outro exemplo do efeito tóxico dos filmes foram as mortes desnecessárias de recrutas dos EUA na Guerra do Vietnã. Eles imitavam a pose que John Wayne inventou para parecer masculino nos filmes de guerra. Em vez e deitarem no chão, eles se tornaram alvos expostos ao se ajoelharem para atirar.
A vida real não é uma encenação cinematográfica. Os atores não são agentes de mudança social, a menos que participem pessoalmente de manifestações de rua ao lado de pessoas que são presas e agredidas por policiais. A arte pode reforçar preconceitos, mas nunca conseguirá mudar o curso da história ou provocar uma revolução econômica.
Atores e atrizes, especialmente norte-americanos (com raras exceções), nunca assumem riscos políticos reais. Eles são animais domesticados que vivem numa bolha de riqueza que não pode ser violada sem prejuízo econômico. Então é melhor vermos o filme Don’t Look Up com os pés no chão.
A título pessoa, devo dizer algo mais. Hoje me disseram que um tio meu de 70 anos está senil.
Ele foi ao banco e fez um empréstimo de 65 mil reais sem ninguém saber. Quando descobriram (porque o Banco começou a cobrar a dívida), os irmãos dele perguntaram onde estava o dinheiro e ele não soube dizer.
Depois de revistar sua casa, meus outros tios encontraram metade do dinheiro escondido e rapidamente o devolveram ao banco. Meu tio senil não sabe o que fez com a outra metade do empréstimo.
Essa pequena tragédia familiar é mais importante para mim do que qualquer filme. Ela pode ensinar algo sobre o mundo em que vivemos. Os bancos fazem empréstimos sem se preocupar com a real situação dos clientes para estimular o consumo de coisa desnecessárias.
O impacto da cobrança de dívidas como essas, contraídas por impulso (ou porque a pessoa perdeu o juízo), é sempre trágico. No fim, o devedor pode se encontrar em uma situação mais precária do que aquela em que estava.
Mas o mundo, com todos os seus problemas estruturais, políticos, econômicos e financeiros, não salvará as pessoas endividadas. E a arte e os artistas raramente se preocupam com eles.
Don’t Look Up é apenas mais um filme. Amanhã ele será esquecido como muitos outros filmes. Além disso, o desprezo pela vida das pessoas comuns e a ganância por lucro continuarão a comandar as ações governamentais não apenas nos Estados Unidos.
Quando quiserem fugir de alguma coisa, mudar o mundo ou evitar uma catástrofe não se esqueçam da melhor frase de toda a História dos filmes de ficção científica:
“Earth man… What a shithole.”
Imagem: reprodução

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