Esse roteiro tem dois desenlaces óbvios:
1- A não realização das eleições, sob a escusa que não há condições para tal.
2- A contestação dos resultados, mesmo sem nenhuma prova, baseada apenas em “denúncias” de eleitores bolsonaristas, o que poderia resultar num novo “assalto ao Capitólio”.
Há, entretanto, um terceiro desenlace.
Tratar-se-ia de impedir Lula de governar e promover um golpe para depô-lo, tal como aconteceu com Dilma, apenas após um ano de sua reeleição.
Pelo andar da carruagem, esse parece o desenlace mais provável.
É preciso considerar que Lula terá de governar em circunstâncias muito difíceis e em meio a expectativas bastante elevadas.
O país está destruído e todos os avanços sociais, econômicos, políticos e culturais promovidos nos governos do PT foram revertidos.
De 2016 até hoje, foram quase sete anos não somente “perdidos”, mas de profundos retrocessos, que demandarão grandes esforços para sua reparação.
Ademais, o cenário internacional é conflitivo e muito restrito, dada à crise econômica, hoje turbinada pela guerra na Ucrânia, que prejudicam as populações mais pobres do mundo.
Isso cria um quadro político bastante delicado e instável, propício a articulações golpistas.
Outro fator a ser considerado tange à falta de compromisso real com a democracia de vastos setores da chamada direita tradicional.
Hoje travestidos de “terceira via”, esses setores participaram ativamente do golpe de 2016, e poderiam, dadas circunstâncias favoráveis, voltar a promover uma nova deposição com ares de legalidade.
Observe-se que, para tentar promover o bem-estar da população mais pobre, o futuro governo Lula terá de promover uma reforma fiscal progressiva, o que certamente desagradará nossas oligarquias.
Outro fator de grande atrito se relaciona à possível reversão, ainda que parcial, da contrarreforma trabalhista, que não gerou empregos e que promoveu a precarização do mercado de trabalho.
Da mesma forma, ações destinadas a assegurar a proteção adequada ao meio ambiente desagradarão setores mais atrasados do agro.
Políticas destinadas a proteger as mal denominadas “minorias” com certeza encontrarão resistência nos vastos setores da nossa população hoje dominados por um reacionarismo medieval.
Nessas circunstâncias, as hordas bolsonaristas, mantidas mobilizadas pelo discurso da “fraude eleitoral”, poderão voltar a sair às ruas, exigindo a deposição do novo presidente “ilegitimamente eleito”.
Bastará a fagulha da descoberta de um novo caso de suposta “corrupção” para que um incêndio político de grandes proporções seja acesso. Incêndio esse que poderá devolver o poder ao bolsonarismo e a aliados eventuais.
Assim sendo, é preciso que o compromisso com a democracia não se esgote na realização das eleições e na posse do novo eleito.
É imprescindível que tal compromisso se estenda também à governabilidade do governo livremente escolhido e à certeza de que novo mandatário possa terminar seu mandato sem maiores contratempos.
Lula é a grande esperança da democracia brasileira.
Nenhum outro governante contribuiu tanto para fortalecer o nosso processo democrático.
Afinal, não há nenhuma grande democracia sólida e avançada sem distribuição de renda, sem inclusão social e sem pleno desfrute de direitos não apenas políticos e civis, mas também de direitos sociais e econômicos.
Contudo, essa esperança precisa se concretizar em ações e políticas que mudem a hoje triste realidade de um país destruído, dividido, profundamente desigual e que volta a passar fome.
A cadela fascista do bolsonarismo estará sempre no cio.
Lula e as forças democráticas e progressistas precisarão governar por um bom tempo para poder desarmar as armadilhas contra a democracia e colocar o neofascismo brasileiro no lugar onde merece estar: no lixo da Histórial
*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
Imagem: reprodução/Foto: Ricardo Stuchert

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