Publicado originalmente por Moisés Mendes, em seu blog: Não há, mesmo que se preocupe muito, nenhuma frase de Hamilton Mourão que mereça registro. Mas esta semana o general-senador produziu uma sentença que parou na capa de todos os jornais. Mourão disse, a respeito do caso das joias da arábias: “A corda vai acabar arrebentando do lado mais fraco”.
É o discurso da platitude, que sempre socorre quem busca dizer alguma coisa que não diga nada em momentos difíceis. É uma das frases mais repetidas desde tempos bíblicos.
A corda não vai arrebentar, vai acabar arrebentando. Mourão poderia ter dito, se fosse mais específico, que vai sobrar para o sargento que foi a Guarulhos tentar liberar as joias, quando Bolsonaro poderia ter mandado um motoboy.
A corda dificilmente vai arrebentar do lado do almirante que despachou o sargento a São Paulo em avião da FAB. Dificilmente do lado do ex-chefe da Receita.
O outro almirante, o que trouxe as joias da Arábia Saudita, esse deve ter cordas reforçadas. Mourão conviveu com essa gente.
Sabe onde tudo vai arrebentar. No garimpo, arrebentou no lado da chinelagem dos garimpeiros que trabalhavam para grandes grupos financeiros.
Todos os grandões da Amazônia forma protegidos pelo governo de Bolsonaro, porque ficaram do lado forte da corda em Brasília.
Mourão também conhece essa gente. Foi o xerife da região como presidente do Conselho Nacional da Amazônia. Saiu dizendo que sua função era consultiva, não era deliberativa.
Uma corda fraca, mesmo com estrelas, não consegue camuflar sua fraqueza. A CPI do Genocídio, por exemplo, produziu um relatório com 79 nomes de acusados de crimes graves.
A corda até então forte, daqueles que tinham de foro especial, está intacta. Augusto Aras decidiu que ninguém mexeria com Bolsonaro, os filhos, os ministros.
Eram 13 as pessoas protegidas por imunidades, incluindo dois colegas de farda de Mourão. Os generais Braga Netto e Augusto Heleno.
Na corda que talvez seja mais fraca estão os 66 sem foro, incluindo cinco coronéis inativos. O Ministério Público parece não querer testar a fortidão da corda dos coronéis, porque nada avança nos pedidos de indiciamento.
Havia corda de todo tipo em Brasília no governo tutelado pelos militares. Cordas para civis, cordas para fardados, cordas para milicianos e para o centrão.
Bolsonaro está agarrado em Orlando a algo que parece, mas não é mais uma corda, é um fio desencapado.
Os militares que o sustentaram preferem falar das cordas dos outros, para não ter que testar a própria corda.
Hamilton Mourão Bolsonaro sabe que poderão prender o sargento mandalete. Mas não prenderão Bolsonaro.
Que a corda do transfóbico Nikolas Ferreira é forte, porque é da nova geração da cordoaria bolsonarista.
Que os grileiros continuam grilando e os escravagistas continuam escravizando porque têm cabos de aço.
Mourão sabe que, no 8 de janeiro, sobrou para manés e terroristas de segunda classe, porque eles acreditaram no incitamento dos manezões da primeira classe. A corda arrebentou no lado do Zé das Couves.
É hora de testar a fortidão das cordas de Michelle, dos filhos de Bolsonaro, do entorno que prestava serviços à família.
Até a corda de Sergio Moro será avaliada pela Justiça Eleitoral, que geralmente só cassa mandato de prefeitinho do interior ou de quem caiu em desgraça entre os grandes.
A corda citada pelo general está no gerúndio e assim tudo continua com seu ritmo, e a novidade de hoje é a mesma da semana passada e nada de importante acontece no que precisa acontecer.
No Brasil do gerundismo, ninguém confia nem na corda da forca. Em tempos de platitudes, é preciso explicar que também essa corda é metafórica.
Porque hoje até as metáforas acabam arrebentando do lado mais fraco.
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