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Warren Buffett: parem de mimar os super-ricos

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Quando da apresentação da proposta de aumento do teto da dívida ao congresso dos Estados Unidos, republicanos e democratas concordaram. Isto permitiu ao governo de  Barack Obama honrar seus compromissos e temporariamente suplantar a crise econômica que enfrenta o país. Quanto às medidas e ajustes econômicos necessários, visando a solução do grande deficit americano, o presidente Obama e os democratas cederam à pressão dos republicanos, e desistiram da elevação de impostos sobre os mais ricos.      

“Enquanto os pobres e a classe média lutam por nós no Afeganistão e a
maioria de norte-americanos passa apuros para chegar ao fim de mês, nós,
os ricos, seguimos com nossas extraordinárias isenções fiscais”,
afirmou Warren E. Buffett, o terceiro homem mais rico do mundo.
Buffett, na semana passada, escreveu um artigo publicado no Jornal norte-americano The New York Times, onde sugere ao governo: “Eu e meus amigos já fomos mimados por tempo suficiente pelos
amigos-dos-milionários no Congresso. É hora de nosso governo levar a
sério a divisão do sacrifício
“. 

A opinião do mega-bilionário foi comentada aqui pelo jornalista Eliakim Araujo. Onde afirma que o apelo de Buffett encontrou apoio em setores da sociedade americana. Um abaixo-assinado circula na Internet com o objetivo de colher 200 mil assinaturas de pessoas, para envio aos congressistas – “vai deixar claro que a maioria do povo americano não concorda com as benesses que eles derramam sobre seus amigos ricos e mega-ricos” – conclui Eliakm.

Leia o artigo na íntegra. Constate que tudo lembra o nosso Brasil. Onde a classe assalariada sempre é chamada para pagar a conta.
A tradução é de Cauê Seigner Ameni.

“Parem de mimar os super-ricos”.

Nossos lideres falaram de “dividir o sacrifício”. Mas me pouparam.
Chequei com meus colegas mega-ricos para ver o que eles esperavam.
Também sentem-se intocados.

Enquanto os pobres e a classe média lutam por nós no Afeganistão, e a
maioria dos norte-americanos se esforça para fechar suas contas, nós
mega-ricos continuamos a desfrutar de incentivos fiscais
extraordinários. Alguns de nós, somos gestores de investimentos.
Ganhamos bilhões com nosso trabalho, mas podemos classificar nossa renda
como “participação nos resultados”, pagando uma pechincha de 15% de
imposto. Outros, aplicam nos mercados futuros de ações e obtêm, em dez
minutos, lucros de 60% sobre o capital aplicado. Mas seu ganho é taxado
em apenas 15%, como se estivessem investindo a longo prazo.


Os legisladores de Washington nos oferecem estes privilégios e muitos
outros. Sentem-se compelidos a nos proteger, como se fôssemos araras
azuis ou alguma outra espécia ameaçada de extinção. É bom ter amigos no
topo da piramide.


No ano passado, minha contribuição fiscal – o imposto de renda que
pago, mais os tributos sobre os salários pagos por mim e em meu nome –
foi de US$ 6.938.744. Parece um monte de dinheiro. Mas foi apenas 17,4%
dos meus rendimentos tributavéis. É um porcentual menor do que o pago
por qualquer uma das outras vinte pessoas em nosso escritório. Suas
cargas tributarias variam de 33% a 41% – uma média de 36% – sobre os
rendimentos.


Se você produz dinheiro com dinheiro, como alguns dos meus amigos
mega-ricos, sua porcentagem pode ser um pouco menor que a minha. Mas se
você ganha dinheiro com trabalho, sua porcentagem será certamente
superior à minha – provavelmente, muito maior.


Para entender o porquê, você precisa examinar as fontes de receita do
governo. No ano passado cerca de 80% veio do imposto de renda pessoal e
dos encargos sociais [impostos sobre salários]. Os mega-ricos pagam
impostos de renda de 15% sobre a maior parte dos seus ganhos, mas não
pagam praticamente nada em impostos sobre salários. A história é
diferente para a classe média: normalmente, pagam uma alíquota de 15% a
25% de imposto de renda, e são atingidos com pesadas contribuições
previdenciárias sobre o sálario.


Nos anos 1980 e 1990, as taxas de impostos para os ricos eram muito
mais elevadas. Minha alíquota estava entre a média. Segundo uma teoria
que algumas vezes ouço, eu deveria ter jogado e me recusado a investir,
por causa das taxas elevadas de imposto sobre o ganhos de capital e
dividendos.


Eu não recusei, nem outros. Trabalho com investidores há 60 anos.
Ainda estou para ver alguém – mesmo quando o imposto sobre os ganhos de
capital chegou a 39,9% entre 1976 e 1977 – amarelar diante de uma
oportunidade de investimento por causa da taxa de impostos sobre o ganho
potencial. As pessoas investem para ganhar dinheiro, e impostos
elevados nunca os assustaram. E para aqueles que argumentam que as taxas
elevadas ferem a criação de emprego, gostaria de observar que cerca de
40 milhões de empregos foram criados entre 1980 e 2000. Você sabe o que
aconteceu desde então: menores impostos e a criação inferior de emprego
ocupações.



Desde 1992, a I.R.S [Internal Revenue Service, agência fiscal
norte-americana], compilou dados das declarações fiscais dos 400
norte-americanos classificados na faixa mais alta de maior renda. Em
1992, estes 400 mais ricos tiveram renda tributável conjunta de US$16,9
bilhões e pagaram impostos federais de 29,2% sobre esta quantia. Em
2008, a renda agregada dos 400 riquíssimos tinha aumentado para 90,9
bilhões – um enriquecimento de US$ 227,4 milhões, em média. Porém, a
tributação média havia caído para 21,5%.


Estou me referindo apenas ao imposto de renda federal, mas você poder
ter certeza de que qualquer imposto sobre rendimentos, para aqueles 400
é insignificante em relação à renda. Em 2088, 88 dos 400, não relataram
ter auferido rendimentos relacionados a trabalho, embora todos eles
declarem ganhos de capitais. Alguns da minha irmandade evitam o
trabalho, mas todos gostam de investir (eu posso compreender isso).


Conheço bem muitos dos mega-ricos. Em geral, são pessoas muito
decentes. Eles amam os Estados Unidos e apreciam a oportunidade que este
país tem dado a eles. Muitos aderiram à Giving Pledge [filantropia],
prometendo doar a maioria de sua riqueza para o bem comum. A maioria
não se importaria de ter que pagar mais impostos, especialmente quando
muitos de seus concidadãos estão realmente sofrendo.


Um comitê de doze membros do Congresso assumirá em breve a tarefa
crucial de reorganizar as finanças de nosso país. Eles foram instruídos a
elaborar um plano que reduz o déficit em pelo menos $ 1,5 trilhão, nos
próximos 10 anos. É vital, entretanto, que alcancem muito mais do que
isso. Os norte-americanos estão perdendo rapidamente a fé na capacidade
do Congresso em lidar com os problemas ficais do nosso país. Apenas
ações imediatas, reais e muito substanciais poderão impedir que a duvida
se transforme em descrença. Esse sentimento pode ter consequências
graves.


Um trabalho para os doze é dissipar algumas promessas futuras que mesmo uma América rica não pode cumprir. O Big Money
tem que ser guardado aqui. Os 12 devem, então, voltar-se para a
tributação das receitas. Eu deixaria inalterados os impostos que recaem
sobre 99,7% dos contribuintes e manteria a redução de 2 pontos
porcentuais nas contribuições do empregado para a Seguridade. Este corte
ajuda os pobres e a classe média, que precisam de cada centavo que
possam obter.


Mas para aqueles que ganham mais de 1 milhão de dólares anuais – eram
236.883 famílias, em 2009 – eu aumentaria imediatamente as alíquotas de
imposto sobre a renda acima de $1 milhão, incluindo, é claro, os ganhos
em dividendos e capital. E para aqueles que faturam acima de $10
milhões – foram 8.274, em 2009 – eu sugeriria um aumento adicional na
taxa.


Eu e meus amigos já fomos mimados por tempo suficiente pelos
amigos-dos-milionários no Congresso. É hora de nosso governo levar a
sério a divisão do sacrifício
.

Fonte: DiretodaRedação.
Via: Outraspalavras.
Imagem: boasnotícias.pt.

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