Isso não é verdade! Certamente você já ouviu esta frase de algum político quando acusado de má conduta, procedimento inadequado, comportamento anti-ético, malversação do erário público. Em fim qualquer ação suspeita que o leve a indícios de corrupção. Pois saiba que a Negação é o carro chefe do rol das estratégias usadas por homens públicos para enfrentar a opinião pública. Negar a todo o custo, mesmo que comprovado o desvio de conduta, a fim de manter o ambiente amistoso, ou ludibrioso, para que o eleitor possa ouvi-lo.
Dentre as várias estratégias utilizadas para salvar a sua carreira e justificar-se dos seus atos ilícitos, tenta preservar a sua imagem de “bonzinho”, dizendo-se vítima de opositores, acusadores, difamadores. Dentre eles a própria imprensa, mesmo sendo ela parcial ou imparcial.
Chico Marés, em artigo para a página Vida Pública, do Jornal Gazeta do Povo, com base em depoimentos de alguns cientistas políticos, elaborou um pequeno cardápio de desculpas usadas pelos “de cujus”, quando se vêem envolvidos de alguma forma em algum escândalo, e cita exemplos.
– Deslegitimar veículos de comunicação que denunciam seus crimes – É o caso do vereador João Cláudio Derosso (PSDB), quando acusado de irregularidades frente a Câmara de Vereadores de Curitiba. “De nada adiantam meus esforços de procurar esclarecer, através dos meios de comunicação, a realidade e a verdade dos fatos, se a cada dia me julgam e me condenam”- disse em discurso à Câmara. Sobre a declaração, o cientista político da UFPR Ricardo Oliveira, comenta: “É um comportamento antidemocrático, já que a imprensa apenas cumpre seu papel de tornar públicos esses fatos”.
– Permanecer em silêncio – diante de acusações evidentes e indícios difíceis de serem negados, preferem se omitir evitando comentários, e a imprensa. É o caso do ex-ministro-chefe da Casa Civil Antônio Palocci (PT), ao ser acusado de enriquecimento ilícito. Só veio à publico explicar o “seu segredo“, depois que explodiu o escândalo. Já era tarde, foi obrigado a renunciar. Quem comenta este item é a coordenadora do Núcleo de Opinião da Universidade Estadual Paulista ( Unesp), Célia Retz – “Para se reportar ao público, o político tem de estar muito bem preparado. Quando a mídia tem elementos que o acusado desconhece, como documentos e gravações, uma eventual contradição pode impactar em sua reputação”.
–Pedir para que a Justiça abra investigação e dizer que sua vida é um livro aberto– “Quero que investiguem minha prestação de contas de campanha, minha vida pessoal e a minha administração da prefeitura. Meus adversários estão querendo desconstruir minha honra e isto não vou permitir”. Foi o que falou o prefeito Beto Richa (PSDB), em 2009, quando vídeos vazaram e comprovavam irregularidades em sua campanha eleitoral. – “Isso é pirotecnia pura. O político diz ‘abra meu sigilo telefônico, fiscal, bancário’, mas se há mal feito, ele não vai usar o seu próprio telefone, nem declarar dinheiro desviado em seu imposto de renda” – comenta, o cientista político da UFSCar Fernando Azevedo.
– Apelar para a família – Tentar ganhar a simpatia do eleitor se referindo à família, apelando para sentimentos íntimos das pessoas. Atitude do senador Alfredo Nascimento (PR), ao se defender de acusações de corrupção no comando do Ministério dos Transportes. “Mentira! O meu filho não é ladrão. Eu vou provar, porque tenho toda a documentação. Eu vou buscar a correção dessa injustiça que cometeram com meu filho” – disse ele. “A comunicação é mais eficiente quando se está em concordância com o interlocutor”, comenta Célia Retz.
– Contra atacar– Você já viu o mau político não maquinar contra seus acusadores ou opositores? É tentar convencer que há uma luta entre o “bem” e o “mal”. Ele representa o bem, claro! Seu antagonista o mal. Era a estratégia do prefeito de Londrina-PR, Barbosa Neto (PDT), ao defender sua esposa acusada de participar em esquema de desvio de dinheiro. Isso é uma covardia daqueles que estão presos e envolvidos em outros escândalos políticos. Disse ele – “esse cidadão [o acusador, Marcos Ratto], inclusive, tinha de ser processado por falsidade ideológica, pois se faz passar por enfermeiro sem ter curso superior. O sobrenome dele já diz quem é a pessoa”. Neste caso, opina Célia Retz, “Quebrar a credibilidade do oponente é uma técnica antiga do discurso e da argumentação”.
– Insinuar interesse políticos – Se fazer de vítima do grupo político contrário. Estratégia que consiste em questionar a credibilidade dos opositores, ao tempo em que se defende. É o caso da ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra, acusada de tráfico de influências, quando atribuiu suas acusações a interesses políticos. – “Não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo” – citou em sua carta de demissão. É a vez do cientista político, Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos, comentar a estratégia: “Ao se colocar no papel de vítima de uma perseguição, o político aplica uma estratégia de redução de dano”.
– Admitir e entregar colaboradores – Tentando “sair por cima” quando não dá mais para contornar a situação. Entregar os outros corruptos e dividir o “ônus da humilhação pública”. Atitude “saída pela direita”, do deputado Roberto Jefferson (PTB) em 2005, quando da eclosão do escândalo que ele mesmo batizou de “mensalão”. Célia Retz, comenta esta estratégia – “Para a opinião pública, o político aparece como alguém que ajudou a desvendar o crime. Mas é necessário muito cuidado para não ficar marcado como um ‘dedo-duro'”.
– “Todo mundo é assim“ – Fala do político envolvido em desvio de conduta, tentando justificar-se declarando que este é o comportamento padrão entre todos os políticos. Aqui, Marés, cita o ex-presidente Lula, quando se referiu ao escândalo do “mensalão” – “houve apenas caixa 2, o que todo mundo faz”. O que infelizmente é uma realidade comprovada no meio público e também no privado (grifo meu). Porém, esta estratégia regularmente usada pela maioria envolvida em corrupção, é mais nociva à credulidade do povo em relação aos homens públicos. Com probidade, explica Azevedo: “Um dos efeitos a longo prazo é a redução da confiança da população na democracia. Quando há grandes escândalos, a população fica mais cética em relação ao próprio regime democrático”.
“Se atos de corrupção não fazem bem à imagem de um político, as explicações, aliadas à impunidade, acabam afetando a credibilidade de toda a classe” – conclui Chico Marés.
Guaraci Celso Primo é do Paraná, Sul do Brasil.
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