Por Mario Vitor Santos*: A Folha, mais antipetista dos veículos “imparciais” brasileiros, coloca agora também na rua o estribilho a ser tocado pelo bolsonarismo e seus aliados nestas eleições. O movimento envolve a criação de uma nova classe de cidadãos plasmada na medida para servir ao caso do ex-presidente Lula. Trata-se do sujeito “inocente, mas não inocentado”.
Só mesmo o jornal da ditabranda seria capaz de tanto.
Em geral, perante a Justiça, como se sabe, “todos são iguais perante a alei”. Além disso, “todos são inocentes até prova em contrário”.
Ou seja, na regra legal válida para qualquer brasileiro, todo cidadão pode se considerado ou inocente ou culpado.
A Folha, num texto “didático” (“Entenda por que Lula é inocente sem ter sido inocentado”) assinado por Flávio Ferreira, inventa uma nova categoria de cidadãos, inexistente até agora: exatamente a do “inocente não inocentado”.
Na verdade, uma forma de dizer que, para o jornal, Lula não é totalmente inocente. Seria mais culpado, por ter saído inocente de um julgamento sem, na verdade, o ser. Um criminoso em dobro por impunidade.
Em geral, na vigência de um estado regido pela lei, o sujeito que não foi, por qualquer ilegalidade, considerado culpado, está automaticamente inocentado. Ou seja, o Estado considera que não foram obtidas, pelos métodos legais, provas da culpa da pessoa.
Assim, a pessoa se mantém na condição de inocente e, portanto, também de inocentada. Provou-se no julgamento de Lula que as acusações contra ele eram ilegais na forma (depoimentos obtidos por coação, por exemplo, ocultação de provas, evidências forjadas, direcionamento de tribunais) e no mérito.
No julgamento de Lula, como de outros, ficou evidenciado que as motivações das acusações eram perseguições políticas e que as provas e depoimentos foram manipulados com esse fim.
Para chegar na tese esdrúxula, a Folha valeu-se de uma declaração genérica do ministro Luiz Fux, do STF, misturando o ex-deputado Geddel Vieira Lima, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco com o mensalão e a Lava Jato, para dizer que anulação formal não invalida “provas” como as malas de dinheiro no apartamento do parlamentar ou as dezenas de milhões de dólares devolvidos pelo ex-funcionário da petroleira.
Mas como? Os casos são incomparáveis. Nem Geddel nem Barusco foram inocentes nem inocentados em seus julgamentos. Foram, ao contrário, culpados por corrupção.
Mas, afinal, o que quer o jornal? A Folha se dedica a torturar as categorias da Justiça para, de fato, influir no processo eleitoral contra Lula, o líder das pesquisas de opinião, de quem ela é velha inimiga, a quem sempre se opôs sem tréguas e perseguiu diuturnamente no poder e fora dele.
O jornal quer dar o tom e fornecer base pretensamente jurídica para alimentar as acusações dos adversários de Lula, principalmente Bolsonaro, que com certeza virão durante a campanha eleitoral. Não é novidade.
Contra Lula e o PT, a Folha formatou o chamado escândalo do mensalão, a partir da farsa de pagamentos falsamente ilegais difundidos pelo notório Roberto Jefferson, hoje em prisão domiciliar.
A condenação do tal mensalão veio na forma de uma declaração histórica de votos da ministra Rosa Weber: “Não tenho provas, mas tenho convicção”. O relator do processo também inovou ao tentar impor a chamada “teoria do domínio do fato“.
A Folha, como se sabe, participou da Lava Jato, na linha de frente do consórcio de toda a mídia corporativa brasileira. Serviu, numa campanha vergonhosa de jornalismo de promiscuidade, ao ex-juiz julgado parcial Sergio Moro comandante da República do “lawfare” de Curitiba. Moro foi condenado. E a mídia?
Da campanha da lava Jato, digna de um livro-texto sobre o que não se deve fazer em jornalismo, pelo caráter oficialesco e politicamente motivado, o jornal e seus cúmplices na mídia brasileira jamais fizeram a devida autocrítica.
Agora, ao contrário, mostrando que se mantém fiel ao mesmo espírito de justiçamento da condenada e anulada Lava Jato, a Folha a reafirma. Renasce o que nunca foi sepultado: a campanha política de perseguição a Lula servindo ao extremismo de direita. Na política, esse refrão serve ao bolsonarismo, a quem a Folha rejeita qualificar como “extrema direita” e de quem ela é tão aficionada na economia.
Alheia ao jornalismo de verdade, honesto, sincero, transparente, fiel aos fatos, a mídia “equidistante” segue se fingindo inocente, sem que, ela sim, tenha sido inocentada.
*Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília da Folha.
Imagem: reprodução/Foto: Reuters/Amanda Perobelli

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