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Cinco maneiras de te convencer que a desigualdade social é legal pacas

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Por Leonardo Sakamoto, em seu
blog
 – “O ultrajante não é alguém morar em um apartamento de 400 metros
quadrados enquanto outro vive em um de 40.
O que desconcerta é uma sociedade que acha normal um ter condições para
desfrutar de um apê de 4 mil metros quadrados enquanto o outro apanha da polícia
para manter seu barraco em uma ocupação de terreno, seja em Itaquera, Grajaú,
Osasco, Pinheirinho, Eldorados dos Carajás, onde for.

Abaixo, cinco formas através das quais tentam te convencer que a desigualdade
social e concentração de riqueza são legais pacas:

1) O povo brasileiro não é o mais alegre do planeta – mas é um dos campeões
de desigualdade social e de concentração de renda. O Brasil não é o país que tem
a mulher mais bonita – mas tratamos mulheres como cidadãs de segunda classe.
Nossa comida não foi eleita a mais gostosa – mas estamos entre os campeões
globais de uso de agrotóxicos. Não somos a maior democracia racial do universo –
o que existe são séculos de escravismo e suas heranças. Adoramos inventar
rankings impossíveis para esconder verdades.

2) Valores ensinados cuidadosamente ao longo do tempo nos transformam em
guerreiros da causa alheia. Não ganhamos nada com isso, mas preferimos defender
que uma propriedade privada seja usada para cultivar vento ou criar ratos e
baratas do transformá-la em assentamento ou conjunto habitacional. Tudo em nome
de uma concepção equivocada de Justiça. “Por que essas pessoas que não aceitam a
vida como ela é se acham melhores do que eu?”, já ouvi um rosário de vezes. Não
é uma questão de melhor ou pior. E sim de aceitar bovinamente um destino
horrível em uma sociedade que, apenas teoricamente, não é de castas. Ou lutar
para sair dessa condição.

3) Você comprou uma TV LED de 60 polegadas e, por isso, consegue se enxergar
como cidadão pela primeira vez, pois compartilha de um dos símbolos da nossa
sociedade. Mas está endividado por ter que pagar o plano de saúde mequetrefe que
te deixa na mão e, ao mesmo tempo, com a corda no pescoço pela dívida contraída
com a sua faculdade caça-níqueis de qualidade duvidosa. Agora, me diga: quem é
cidadão de fato? Os que podem comprar eletrônicos no crediário ou os quem têm ao
seu dispor serviços de educação, saúde, segurança, cultura, transporte de
qualidade?

4) É justo que todos que suaram a camisa e conseguiram guardar algum queiram
deixar uma vida mais confortável para os seus filhos. Mas, a partir de uma
determinada quantidade de riqueza (muita, muita riqueza), o que seria apenas
garantir conforto transforma-se em transmissão hereditária da desigualdade
social e de suas consequências. Europa, Estados Unidos, entre outros países,
resolvem isso através de um imposto grande sobre herança que irriga os cofres
públicos ou força a doação via fundações privadas. Mas aqui a gente não precisa
dessas coisas.

5) Adoro políticos com sensos de humor: “A população tem que entender que o
crescimento do PIB vai beneficiar a todos, mas não agora”. Os economistas da
ditadura falavam a mesma coisa: “é preciso primeiro fazer o bolo crescer, para
depois distribui-lo”. Ou seja, você ajudou a produzir o doce, mas tire a mão
dele que não é hora de você consumi-lo. Hoje, são apenas alguns que vão comer,
vai chegar a sua vez. Enquanto isso, chupa que a cana é doce.

Sempre quis publicar este aqui não nunca tive oportunidade antes.

Sempre quis publicar este aqui não nunca tive oportunidade antes.”

*Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo.

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