no Congresso, retração do PIB, voos de Aécio Neves com celebridades e figurões
da imprensa, corrupção na Sabesp, Lava Jato, assunto não faltou em 2015. Mesmo
assim, o jornalismo conseguiu furos que se provaram enormes furadas, além de
teses catastróficas que não se provaram verdadeiras.
No dever de informar, a mídia brasileira dominou a arte de prever
acontecimentos sem embasamento, prestando um desserviço aos seus leitores.
Selecionamos as maiores furadas e profecias erradas publicadas neste
ano.
1. As capas da Veja tentando colocar Lula na cadeia

A Veja se consagrou em 2015 como a pior revista semanal e fez isso batendo à
beça em Lula. A capa de 29 de julho tentou enquadrar o ex-presidente com base na
delação do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, quedesmentiu
as informações após a publicação da edição. No dia 4 de novembro, conseguiu
colocar Lula num uniforme de presidiário.
O ex-presidente não foi preso e entrou
na Justiça.
2. O furo de Lauro Jardim sobre o filho de Lula no Globo –
que era uma furada

Ex-titular da coluna Radar da revista Veja, Lauro Jardim saiu do seu cargo de
editor-executivo na editora Abril para assumir uma coluna no jornal O Globo. No
primeiro texto, em 11 de outubro, Lauro já estampou a manchete sobre a operação
Lava Jato: “Baiano diz que pagou contas do filho de Lula”. O operador desmentiu
o colunista, falando que passou dinheiro para o pecuarista José Carlos
Bumlai. O Globo só admitiu a mentira em 8 de novembro, pedindo desculpas a Lula
e Fabio Luis Lula da Silva.
3. Outra furada de Lauro sobre a suposta
viagem de Eduardo Cunha a Cuba

Nem depois do Natal Lauro Jardim deixou de publicar
uma barrigada no Globo. Ele divulgou no dia 26 de dezembro que o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, tinha embarcado para Cuba para passar o ano novo. O texto
trazia uma foto compartilhada pela enteada de Cunha no Instagram com uma bunda
original e um dedo em riste do perfil de Kendall Jenner, irmã da socialite Kim
Kardashian. Cunha desmentiu a coluna na sua conta do Twitter, afirmando que
estava no Rio de Janeiro. Ele ainda teve tempo de chamar Lauro de “colunista
pilantra” e disse que a Globo é petista. O jornalista, que já tinha passado pela
informação furada do filho de Lula, só publicou uma atualização no texto de
Cunha em Cuba, sem dar a errata real.
4. As capas de todas as revistas
semanais, exceto Carta Capital, prevendo o impeachment

Precisa comentar? Não é necessário, basta olhar
três capas. A maioria foi publicada entre outubro e novembro de 2015. As
revistas brasileiras se uniram para apostar no afastamento e erraram todas.
5. As reportagens mostrando Eduardo Cunha como “homem forte” contra
Dilma

Mal sabiam os jornalistas envolvidos nestas
reportagens que Eduardo Cunha receberia acusações graves de recebimento de
propina na operação Lava Jato vindas da Suíça. A capa da Veja, publicada em 25
de março, não traz uma linha de qualquer acusação que Cunha recebeu ao longo de
sua trajetória política como lobista e ainda tece elogios por sua atuação nos
bastidores. Naquele mesmo período, Joice Hasselmann, a apresentadora da TVeja
que plagiou mais de 60 textos, fez uma entrevista igualmente bajulatória. Já a
revista Época, em 17 de outubro, tentou dar poder ao presidente da Câmara perto
do período em que ele abriria o processo de impeachment.
Cunha terminou 2015
como um morto vivo.
6. A quantidade de vezes em que Diogo Mainardi e Mario
Sabino profetizaram a prisão de Lula
Criado o blog Antagonista no final
de 2014, Diogo e Mario dedicaram-se diariamente a fazer torcida contra Lula,
Dilma e o PT. Perdeu-se a conta da quantidade de vezes em que eles profetizaram
a prisão do ex-presidente, a delação premiada de Delcídio — fora a quantidade
enorme de artigos com informações erradas sobre pedaladas fiscais, entre outras
barbaridades. E eles prometem continuar com tudo em 2016.
7. A tese furada
de Carlos Alberto Sardenberg sobre a crise da Grécia
Para o comentarista
da CBN e do Jornal da Globo, Lula e Dilma foram os responsáveis por convencer o
primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, a adotar o programa antiausteridade em
2015. A maluquice foi comentada no dia 2 de julho na rádio CBN. Lula utilizou
seu Facebook para responder ao jornalista econômico.
8. A República que Marcelo Odebrecht não derrubou

Reportagem de capa de 20 de junho da
revista Época estampou a prisão do empresário Marcelo Odebrecht, com uma
reportagem que dava como certa uma delação premiada do empreiteiro que
“implodiria” a república brasileira como conhecemos. Tudo cascata. O
redator-chefe Diego Escosteguy alardeou no Twitter sobre o conteúdo “bombástico”
do texto. A república não caiu, mas a Época continua indo para o buraco.
9. As capas querendo colocar Michel Temer no lugar de Dilma

Michel Temer se tornou queridinho da grande
imprensa, como Eduardo Cunha foi enquanto era conveniente. A Veja apostou que
ele e seu partido já teriam um plano para a sucessão, enquanto o PMDB se perde
em uma disputa interna. Mas quem namorou de verdade Temer em 2015 foi a revista
ISTOÉ, concedendo-lhe pelo menos quatro capas no ano. O ápice foi em 23 de
dezembro, quando o veículo da editora Três deu o prêmio de “Brasileiro do Ano”
para o “vice decorativo” de Dilma. Ele terminou o ano como autor de cartas
medíocres.
10. A torcida pelo fim da crise da Sabesp
Os jornais
Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo noticiam com certo otimismo a elevação do
nível do sistema Cantareira para perto de 29%, o que significaria a saída do
volume morto após dois anos de crise hídrica. No entanto, o que a grande
imprensa omite é que foram gastos quase R$ 30 milhões para transferir água do
Rio Guaió, e de outras fontes, pela Sabesp e que isso não impediu que as
reservas do Alto Tietê caíssem pra cerca de 20%. O Ministério Público abriu
processo contra o DAEE, a Sabesp e o governo Geraldo Alckmin por improbidade
administrativa no dia 14
de dezembro. A crise hídrica não acabou e a torcida da mídia omite acusações
graves de corrupção e de formação de cartel entre as empresas terceirizadas,
conforme apurou opróprio
DCM em sua série de reportagens sobre o tema.
11. A tentativa de transformar a ida de Aécio, Caiado e outros até a
Venezuela num fato importante
Aécio Neves, Aloysio Nunes e Ronaldo Caiado
bem que tentaram, com amplo espaço na grande imprensa, visitar os “presos
políticos” na Venezuela, mas foram barrados por um protesto de chavistas.
Disseram que foram “sitiados”, deram meia volta e não ficaram em Caracas para
ver o que aconteceria. Caiado jura que filmou no seu celular um manifestante
querendo quebrar o ônibus em que estavam. Ninguém nunca viu tal
gravação.
12. A tentativa de transformar o fechamento de 94 escolas em
“reorganização”
O governo Alckmin teve espaço nos telejornais, nas
revistas e nos jornais para defender seu projeto de “reorganização” de escolas
estaduais. No entanto, isso não impediu que um áudio de uma reunião entre 40
dirigentes de educação vazasse para o site Jornalistas Livres, com uma
verdadeira declaração de guerra contra estudantes que começaram a ocupar as 94
escolas. Mobilizados, os alunos entraram em mais de 200 escolas e derrotaram a
iniciativa do governo.
Foi mais uma tentativa da mídia de dar voz a Alckmin
que não deu muito certo.
13. O acidente no Minhocão que virou culpa da
ciclovia
A imprensa noticiou em peso que o zelador Florisvaldo Carvalho
Rocha, de 78 anos, teria morrido na ciclovia sob o Minhocão em agosto deste ano.
O problema é que uma perícia
da Polícia Civil provou que o ciclista que o matou passou no corredor de
ônibus, e não na faixa vermelha desenhada pelo petralha Fernando Haddad. Foi
mais uma tentativa mal-sucedida de tentar culpar o prefeito em cima de uma
informação incorreta.
Os anti-petistas ainda juram de pé junto que o zelador
morreu na ciclovia, infelizmente.
14. A falácia do processo do Bill Gates
contra a Petrobras
Em tempos de Lava Jato, uma notícia de que a Fundação
Bill & Melinda Gates estaria processando a Petrobras seria uma bomba,
certo? A imprensa internacional e a brasileira caíram neste factoide em 25 de
setembro, que foi desmentido pelo próprio fundador da Microsoft. Bill Gates foi
visitar Dilma Rousseff em uma viagem até Nova York para pedir desculpas pelo
erro de informação.
Quem estava processando a Petrobras era um investidor
externo de sua empresa, por perdas em ações depois das operações da Polícia
Federal. Poucos veículos brasileiros deram destaque ao desmentido de Gates.
15. A mentira de que a “Paulista fechada atrairia o caos”
O
prefeito Fernando Haddad decidiu em 2015 abrir a Avenida Paulista para os
pedestres e fechar para carros aos domingos, uma medida revolucionária que
incentiva um contato mais humano com a cidade. O Instituto Datafolha em novembro
indicou que pelo menos 47% dos paulistanos aprovam a medida, contra 43%. Mesmo
com protestos dos blogueiros da revista Veja e do senador tucano José Serra, a
Paulista aberta segue como um sucesso.
16. O sucesso das ciclovias em São
Paulo, contrariando setores da imprensa
A mídia brasileira bem que
tentou, mas não conseguiu conter a aprovação de 56% dos paulistanos a respeito
das ciclovias segundo o Datafolha neste final de ano. Mesmo com o blogueiro
Reinaldo Azevedo chamando os usuários de “talibikers” ou de “fascistas sobre
duas rodas” e profetizando o caos, parece que a galera está gostando de pedalar
e está usando menos o carro na maior metrópole brasileira.
17. Redução das
Marginais em São Paulo que evitou mortes, não provocou catástrofes
Haddad
deve causar dor de cabeça nos seus críticos. O prefeito reduziu as velocidades
máximas das pistas expressas nas Marginais Pinheiros e Tietê de 90 km/h para 70
km/h em julho de 2015. No mês de setembro, a medida reduziu em 36% os acidentes
com vítimas de acordo com a CET. Isso deve ter deixado os comentaristas da Jovem
Pan com os cabelos em pé.
18. A cobertura convocatória dos protestos
coxinhas que não evitou seu esvaziamento
A GloboNews cobriu em tempo real
as manifestações pró-impeachment em São Paulo e em Brasília com os bonecos
inflados de Lula e Dilma, com adesão de todos os veículos da grande imprensa.
Mesmo com todos os holofotes, os protestos de 13 de dezembro só reuniram 30 mil
pessoas na Avenida Paulista, com direito a olavetes e manifestantes pró-ditadura
militar dividindo caminhões de som com o mítico líder do MBL, Kim Kataguiri. O
número de manifestantes foi muito inferior aos 210 mil do dia 15 de março. As
estatísticas são do DataFolha e a campanha da mídia, pelo visto, não
funcionou.
19. Uma década depois do mensalão do PT, o mensalão mineiro teve a
primeira condenação
Embora seja ainda em primeira instância, o
ex-governador tucano Eduardo Azeredo foi condenado a 10 anos de prisão pelos
crimes praticados no chamado mensalão mineiro, esquema de caixa dois que
envolveu o publicitário Marcos Valério em 1998. A mídia não profetizou nada a
respeito deste processo de Azeredo e só deu capa para os 10 anos do mensalão que
culminou na prisão de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Para a grande
imprensa, o caso dos tucanos é “menor”, o que é mais uma furada de
2015.
20. A profecia furada da separação entre Dilma e Lula
Para
Lauro Jardim, o mesmo repórter da furada sobre o filho de Lula, o ex-presidente
estaria longe de Dilma desde março de 2015, quando ele ainda trabalhava na Veja.
Ricardo Noblat sentenciou em setembro no Globo que Lula “desembarcou do
governo”. De onde eles tiraram tais informações eu não faço ideia, mas no dia 4
de dezembro o ex-presidente disse em sua fanpage de Facebook que “Dilma fica”,
contra o processo de impeachment aberto por Eduardo Cunha.
Se isso for
indício de separação, me parece um divórcio muito adocicado. Diogo Mainardi,
aquele que faz torcida em seu Antagonista, acha que Dilma Rousseff quis provocar
Lula ao transformar Leonel Brizola em herói nacional neste final de ano.
Acredita nisso quem realmente quiser acreditar.
***
VIA

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Bacharel em Administração. Ex-servidor da Previdência e ex-Banco do Brasil.
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